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Quadros 1 e 2, Fichas de trabalho 1, 2 e 3
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Traduzido por Artur Melo. Friedlinde Krotscheck descreve como usou um artigo de ciência de ponta do Science in School como base para uma unidade de ensino sobre o corpo humano.
Para os adolescentes, as aulas podem não ser muitos importantes. Muitos alunos estão mais interessados na sua aparência, nos seus companheiros e em passar um bom bocado fora da escola; são, também, bastante sensíveis às opiniões dos seus pares. Após ter feito a revisão de um artigo, para a Science in School, sobre uma potencial nova terapia hormonal para a obesidade (Wynne & Bloom, 2007), pensei se poderia usar o artigo e as preocupações dos adolescentes para conseguir que os meus alunos de 10º ano (15-16 anos de idade) se envolvessem mais nas aulas de biologia.
O primeiro semestre do 10º ano é dedicado ao ‘corpo humano’; é a primeira e única vez que os alunos abordam o assunto com profundidade. Durante três meses, dediquei todas as 24 aulas de biologia (45 minutos cada) ao sub-tópico ‘homeostasia e o corpo humano’, centralizadas no artigo da Science in School, complementado com pequenos vídeos de aulas da The Science of Fat (Evans & Friedman, 2004).
Comecei por questionar os meus alunos se gostariam de tentar uma abordagem diferente, baseada num dossier que tinha preparado com fichas de trabalho e tabelas. Os alunos iriam trabalhar sózinhos e em grupos para desenvolver os seus próprios portfólios de informação (registos, diagramas e ensaios), apresentar os seus resultados aos colegas e participar em debates na aula. Os alunos reagiram entusiasticamente à ideia.
Durante os três meses seguintes, o entusiasmo dos alunos, tanto pelo assunto como pelo método de ensino, manteve-se. Estavam motivados para estudar os sistemas de órgãos, compreender o conceito de homeostasia e analisar criticamente os seus próprios estilos de vida. Fiquei impressionada como trabalharam afincadamente nos porfólios – mesmo fora das aulas – e com a ânsia de aprender mais sobre os aspectos científicos envolvidos, influenciar a orientação da unidade de ensino, ensinarem-se mutuamente e discutir os aspectos éticos envolvidos.
Como é evidente, ao apresentar o tema obesidade, deve haver a preocupação de lidar de forma sensível com os alunos com excesso de peso ou obesos da turma. Como a unidade de ensino foi iniciada com uma introdução bastante longa sobre homeostasia e metabolismo, os alunos estavam bastante calmos no momento em que foi discutido o índice de massa corporal – e é claro que os dados de cada aluno não foram tornados públicos.
Após termos iniciado o debate da obesidade e do artigo de investigação, os meus dois alunos com excesso de peso ficaram entusiamados, percebendo que a sua situação não era necessariamente culpa deles – e começaram a relatar os seus hábitos alimentares de forma desinibida na aula. Outros alunos falaram abertamente sobre os seus problemas de peso, incluindo a anorexia e a bulimia.
Seguem-se orientações para utilizar a unidade de ensino. Usei-a para introduzir (com a concordância dos alunos) uma abordagem diferente a aulas de biologia, semelhante à forma como trabalham os cientistas. Também permitiu aos meus alunos perceber que o conhecimento factual básico é importante para compreender investigação de ponta.
Se não puder utilizar tanto tempo com este tópico, poderá limitar-se a pequenas partes do projecto, ou a fichas de trabalho individuais.
Comece a primeira aula com a questão simples “Como se encontram?”. A discussão das respostas dos alunos e agrupá-las em respostas delicadas e em reflexões honestas do seu estado emocional no momento (p.ex. triste, alegre, cansado, aborrecido), deve permitir chegar a factores que influenciaram as respostas, por exemplo:
A partir daqui, oriente o debate para o metabolismo humano e um dos diagramas (o balanço energético, à esquerda) de Wynne & Bloom (2007). Como trabalho de casa, os alunos devem completar o Quadro 1, todos os dias durante uma semana, listando o que comem e que exercício físico fazem. Todos os quadros e fichas de trabalho necessários para a unidade pode ser descarregados do website da Science in Schoolw1.
Ingestão de alimentos | Gasto de energia | ||||
---|---|---|---|---|---|
Dia | Descrição dos alimentos | ml ou g | Actividade | Tempo | Distância |
Para abordar o tema metabolismo, os alunos precisam compreender os sistemas de órgãos do corpo e como funcionam em conjunto para manter a homeostasia. Durante toda a unidade, os alunos devem coleccionar informações num portefólio sobre as várias funções dos sistemas de órgãos, trabalhando quer em grupos quer individualmente, na aula ou em casa. É importante que o professor participe apenas como fornecedor dos materiais (livros, websites, modelos, diagramas e outra informação sobre os vários sistemas de órgãos); os alunos devem recolher os factos sozinhos. Dei aos meus alunos poucas orientações sobre que factos recolher – dando apoio, principalmente, aos alunos mais fracos. Outros professores podem preferir fornecer apoio mais estruturado.
Cada grupo de alunos pode concentrar-se num sistema de órgãos e fazer uma apresentação de 15 minutos, entregando aos outros grupos um questionário para completar.
Após terem recolhido informações sobre todos os sistemas de órgãos, os alunos devem usar a Ficha de Trabalho 1 para:
Usei 12 aulas na primeira das duas partes da unidade de ensino, ficando os alunos, no final, com um conhecimento básico sobre os sistemas de órgãos, como dependem uns dos outros e o que é a homeostasia. A única aula que dei foi sobre o sistema nervoso central; todos os outros tópicos foram da responsabilidade dos alunos.
Tendo em conta os registos no Quadro 1, os alunos devem enunciar uma hipótese sobre o seu próprio balanço energético (p.ex. perda de peso ou aumento de peso). Devem depois ter em conta como os seus resultados podem ser comparados quantitativamente com os dos seus colegas de turma – e chegar à ideia da utilização do índice de massa corporal (IMC).
BMI = massa corporal (kg)
(altura (m))2
Usando a equação ou uma calculadora de IMC onlinew2, cada aluno deve calcular o seu próprio IMC. A primeira aula do curso de férias da The Science of Fat (‘Deconstructing obesity’ by Jeffrey M Friedman) pode ser utilizada para introduzir algumas das limitações do IMC, em especial que não se aplica com o mesmo rigor a toda as pessoas.
Em seguida, usando o Quadro 2 e os dados do Quadro 1, cada aluno deve calcular o seu balanço energético diário e médio semanal, para verificar em que direcção o seu balanço energético aponta. Para isso, os alunos irão precisar da orientação do professor para converter os dados do Quadro 1 em quilojoules. Existem também muitos websites que executam os cálculos ou fornecem a informação necessáriaw3.
Ingestão de alimentos menos gasto de energia | |||
---|---|---|---|
Dia | + kJ (ingestão de alimentos) | – kJ (gasto de energia) | Balanço energético |
O balanço energético calculado irá variar de aluno para aluno – e pode ser diferente da hipótese proposta no início desta secção. No diagrama ‘balanço energético’ (ver acima), acrescente o balanço energético (em kJ) de cada aluno e discuta os resultados. Os alunos perceberão que o gasto de energia total pode ser separado em energia que o corpo gasta em processos metabólicos, quando em repouso (a nossa taxa metabólica basal), e energia usada durante a actividade diária. No entanto, o Quadro 2 apenas inclui o gasto de energia das actividades – e o metabolismo basal será diferente de aluno para aluno.
O nosso consumo energético metabólico pode ser estimado, com base na nossa altura, peso, sexo e idadew4, w5. Os alunos podem estimar a sua taxa metabólica basal e inclui-la no cálculo do seu balanço energético no Quadro 2. Como é que isto modifica a posição dos alunos no diagrama ‘balanço energético (ver acima)?
Neste ponto, o metabolismo a nível celular pode ser introduzido através da Ficha de Trabalho 2. Os alunos devem usar o seu livro de estudo para responder às questões seguintes, estabelecendo a relação entre o nosso balanço energético e as actividades das células, tecidos e órgãos.
Na Ficha de Trabalho 2, use setas para mostrar a interdependência destas funções.
Entre os meus alunos, isto originou um debate sobre o facto de o nosso fenótipo – por exemplo, se somos altos ou se somos gordos – ser afectado pela forma como as células dos nossos órgãos funcionam. Por vezes estas células estão presentes mas não funcionam correctamente. Os meus alunos concluiram que a homeostasia ocorre a todos os níveis – entre células e entre órgãos – e que a homeostasia (equilíbrio) é necessária para um corpo saudável.
Mesmo que a variação no consumo energético metabólico seja tida em conta, nem todos os alunos terão um balanço energético próximo de 0; pelo contrário, alguns deles consomem claramente mais (ou menos) energia do que gastam. Porquê? O debate deve levar ao conceito de saciedade: a sensação de ter comido o suficiente.
Introduza o segundo diagrama (à direita) de Wynne & Bloom (2007) – mas sem legendasw1. Descreva a investigação relatada no artigo e explique a sinalização envolvida no apetite, no acto de comer e na saciedade. Em especial, o papel das células L pode ser investigado e discutido, melhorando o conhecimento dos alunos sobre funções celulares no contexto dos nossos sistemas de órgãos.
Os alunos devem legendar o diagrama correctamente.
Como os alunos estão agora familiarizados com o conceito de IMC e a definição de obesidade, leve-os a discutir em pequenos grupos os problemas da obesidade e da necessidade de ajuda, tendo a Ficha de Trabalho 3w1 como suportew1.
Peça aos alunos para imaginarem que eram obesos e coloque as seguintes questões:
A discussão deverá levar os alunos à conclusão que a obesidade é um sinal de perturbação da homeostasia, quando algumas pessoas não reconhecem a saciedade, porque as suas células L podem não estar a funcionar correctamente. O tratamento com oxintomodulina permite induzir a perda de peso através da correcção do balanço energético do corpo, permitindo que um peso saudável possa ser mantido.
Antes que a oxintomodulina possa ser usada, em larga escala, no tratamento da obesidade, são necessários mais estudos. A partir de Wynne & Bloom (2007), utilize a caixa informativa sobre teste clínicos a medicamentos (abaixo), para mostrar que antes dos medicamentos serem licenciados, passam por várias fases de teste, para identificar e minimizar efeitos secundários.
As questões seguintes poderão surgir ou ser colocadas:
Peça aos alunos para redigir um pequeno texto – uma história criativa ou uma abordagem factual – sobre o impacte possível da utilização da oxintomodulina no tratamento da obesidade.
Finalmente, os alunos poderiam discutir se este tipo de investigação deve ser financiada. Porquê? Porque não? Com os meus alunos, ocorreu um debate animado, incluindo o ponto de que muito mais pessoas morrem de fome no mundo, do que com problemas relacionados com a obesidade.
No final da unidade, os alunos devem compreender que os nossos sistemas de órgãos dependem uns dos outros e se influenciam mutuamente, e que se um parâmetro for alterado, ocorrerá uma sequência de alterações algures no sistema. Isto é verdade para qualquer perturbação da homeostasia corporal, seja o excesso de comida, a fome ou mesmo o abuso de drogas.
Os novos medicamentos precisam de passar por uma série de testes, chamadas fases, para verificar se são eficazes e seguros.
FASE I: Teste inicial, normalmente num pequeno número de voluntários saudáveis, para determinar uma dose segura e detectar potenciais efeitos secundários.
FASE II: Maiores grupos experimentais de voluntários (até 100) que apresentam a doença, para determinar a eficácia a curto prazo e o nível de segurança. Ambos os estudos descritos neste artigo foram testes de Fase II.
FASE III: Grandes grupos de voluntários para teste do medicamento (até vários milhares), com a doença, durante um período de um ano ou mais, para comparar o tratamento com terapias já existentes ou um placebo.
FASE IV: Teste do medicamento normalmente realizado após o licenciamento do tratamento, para determinar a eficácia do tratamento quando é usado em larga escala e para investigar riscos e benefícios a longo prazo.
Este processo é essencial para garantir que o benefício do tratamento é superior a quaisquer eventuais efeitos secundários, mas implica que podem passar vários anos até que o medicamento chegue ao público.
Fase | ||||
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I | II | III | IV | |
Número | 124 | 259 | 169 | 55 |
Se já usou algum dos nosso artigos nas suas aulas, por favor conte-nos como. Contacto: editor@scienceinschool.org
Quando os alunos são activamente envolvidos nas suas aulas, aprendem e gostam sempre mais. Este artigo mostra como isto pode ser conseguido, através de um artigo de ciência de ponta da Science in School, que pode ser utilizado para abranger um tema inteiro do curriculo.
O trabalho está relacionado, e irá desafiar muitos alunos, com matemática, biologia e debates sobre saúde e bem-estar. Os alunos devem sentir-se confortáveis na sala de aula antes de iniciarem o debate de ‘problemas de peso’ e talvez seja boa ideia referir que assuntos pessoais são confidenciais e não devem ser comentados fora da sala.
O tema dos medicamentos no controle do peso e promoção da perda de peso é um tópico interessante e podia ser alargado para incluir produtos naturais e produtos de venda livre. Os alunos podiam debater aspectos sociais, comerciais e éticos relacionados com os produtos para a perda de peso e sua promoção. Deve constituir uma forma interessante e divertida de estudar um tópico, tornando-o relevante para a vida pessoal dos alunos.
Shelley Goodman, Reino Unido
Quadros 1 e 2, Fichas de trabalho 1, 2 e 3
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