Imagine… partilhando ideias nas ciências da vida Teach article

Traduzido por Sonia Furtado. Com a ajuda de estudantes e cientistas entusiásticos, o concurso escolar holandês “Imagine” apoia a produção sustentável de biodiesel em Moçambique, óleo de abacate no Quénia e do corante bixina no Suriname. Daan Schuurbiers e Marije Blomjous, da…

“Inter-relacionar investigação e educação para fazer avançar o desenvolvimento sustentável” é a ideia ambiciosa por trás do concurso escolar Imagine, organizado na Holanda. A ideia é simples: investigadores na área das ciências da vida são convidados a apresentar propostas para aplicar determinada tecnologia num país menos desenvolvido. Essas propostas são então transformadas em planos de negócios por alunos de 16-18 anos, num concurso nacional de escolas. Os finalistas apresentam os seus planos de negócios numa conferência internacional, perante uma plateia de profissionais. Mas só um grupo ganha o grande prémio: a concretização do seu plano de negócios e uma visita ao país onde o projecto será implementado.

Charco de algas em Moçambique
Imagem cortesia de Foundation
Imagine

Para o bem de países em vias de desenvolvimento, cientistas têm contribuído um grande número de aplicações inovadoras da investigação na área das ciências da vida, como o uso de fungos para atacar os mosquitos portadores de malária, fortificação biológica dos solos e tratamento de águas residuais através de nanofiltros. Desenvolver aplicações práticas e de baixo custo a partir de investigação pura não é fácil, mas os cientistas têm abraçado o desafio de dar uso prático à investigação. Segundo Joost Uitdehaag, um dos cientistas participantes: “Grande iniciativa. Trabalhar noutras coisas que não as habituais actividades diárias é um desafio agradável, e é inspirador fazer algo concreto por um país em vias de desenvolvimento.”

O sentido da ciência

O maior desafio é posto aos alunos das escolas: são eles quem tem que fazer sentido das propostas científicas, extraindo delas o potencial económico. Um manual da competição, que inclui as propostas científicas, é enviado a todos os participantes. A tarefa dos alunos é então discernir os elementos científicos, financeiros e sociais da proposta e defini-los de forma suficientemente detalhada para convencer a audiência de que o seu projecto deve ser implementado. Cabe a cada grupo decidir exactamente qual será o seu plano de acção, mas todos têm que incorporar as respostas às seguintes questões:

  • Que tecnologia está a ser utilizada?
  • Exactamente onde será o projecto implementado?
  • Como afectará as pessoas no país em vias de desenvolvimento?
  • Quem tencionam contactar?
  • Qual será o custo?
  • Que problemas poderão enfrentar?

Para além de compreender bem a ciência e tecnologia subjacentes à ideia, os alunos são confrontados com um conjunto de questões financeiras, políticas e sociais para resolver. Para os auxiliar nesses campos estão disponíveis duas actividades durante o ano:

  1. Experiências nos laboratórios dos próprios cientistas ajudam os alunos a compreender as bases científicas do projecto. Depois de obterem informação na Internet e participarem em discussões iniciais com os respectivos professores de ciências, os alunos fazem experiências relevantes e podem pôr as suas questões directamente aos cientistas.
  2. Durante um “dia de conhecimento” no Museu Nacional de Etnologia em Leiden, os alunos participam em discussões com peritos em apoio ao desenvolvimento para terem noção de como é trabalhar em países em vias de desenvolvimento e dos problemas que podem esperar.

A final

Bram van Beek no charco de algas
em Moçambique

Imagem cortesia de Foundation
Imagine

Um júri profissional selecciona cinco planos de negócio para a grande final da competição, uma conferência internacional em que os finalistas apresentam os seus planos aos profissionais da plateia e do júri. Cada apresentação é apoiada por um vídeo promocional, realizado em cooperação com um produtor cinematográfico experiente. Os alunos recebem treino para esta apresentação, num workshop em que aprendem técnicas de apresentação, bem como dicas e truques de PowerPoint, preparando-os para fazer uma apresentação atraente e de alta qualidade.

Depois das apresentações, o júri reune para avaliar os relatórios e apresentações, e escolher o grupo vencedor, cujo projecto é implementado com o apoio da Fundação Imagine. Após um período de angariação de fundos e estabelecimento de contactos, o cientista e os alunos vencedores visitam o país onde o projecto está a ser posto em prática. Depois da sua visita a Moçambique, Chang Liu, aluno vencedor do Imagine 2004, disse “Foi muito mais divertido do que estava à espera. Pensei que o contacto com os cientistas fosse muito formal, mas afinal divertimo-nos todos juntos.”

Objectivo: desenvolvimento

Actualmente estão a ser concretizados quarto projectos Imagine: o engenheiro holandês Bram van Beek construiu um charco em Moçambique para produzir biodiesel a partir de algas; o agricultor queniano James Kariuki está a transformar pêras-abacate demasiado maduras em óleo para produtos cosméticos; Bob Ursem, director do jardim botânico de Delft, está a trazer vida nova a uma plantação no Suriname, e o botânico Johan Baars desenvolveu um plano para combater a malnutrição no Gana cultivando cogumelos-ostra.

Fazer as ideias funcionar

Alunos a fazer contas de
quitosano

Imagem cortesia de Foundation
Imagine

O ponto forte desta competição é a combinação única de três objectivos: incentivar os investigadores a implementarem o seu trabalho para benefício da sociedade; chamar à atenção dos alunos questões relacionadas com o desenvolvimento, e implementar projectos úteis em países em desenvolvimento. Mas este ponto forte é simultaneamente um desafio: organizar a competição requer muito tempo e existem vários potenciais problemas. Se estiver interessado em organizar uma competição semelhante no seu país, os pormenores seguintes poderão ser úteis.

Antes de mais, não é fácil escrever boas propostas de projecto. Terá de encontrar investigadores que estejam dispostos a partilhar as suas ideias e investir tempo e empenho no projecto. Em seguida, terá de ser verificada a relevância e enquadramento cultural das ditas propostas, bem como eventuais limitações como direitos de autor. Esta verificação tem de ser feita caso-a-caso, pelo que requer atenção contínua durante o ano.

Outro desafio é motivar os alunos a participar. É necessário conhecer o sistema escolar do país, para poder aproveitar ao máximo as oportunidades existentes no currículo para projectos de trabalho. Ir a conferências de professores pode ajudá-lo a perceber os desafios enfrentados por professores e alunos.

Apresentação na final
Imagem cortesia de Foundation
Imagine

Por fim, a concretização de projectos em países em desenvolvimento pode trazer problemas. O percurso histórico do apoio ao desenvolvimento demonstra claramente o perigo de transmitir ideias ocidentais a outras culturas sem as adaptar: os projectos não terão sucesso se não se enquadrarem na cultura local.

O sucesso de um projecto não depende necessariamente do seu grau de inovação, mas sim de condicionantes práticos: procura, relação custo/benefício, auto-suficiência e tempo.

A chave para lidar com estes desafios é interagir com entidades relevantes. Cooperar com organizações que têm já relações bem estabelecidas com investigadores, escolas (por exemplo, o departamento de comunicação da universidade) e organizações de apoio ao desenvolvimento ajudá-lo-á a evitar alguns destes problemas.

A organização de concursos deste género oferece uma oportunidade para grandes aprendizagens, e requer determinação e entusiasmo da parte dos organizadores e de todos os voluntários que estejam dispostos a dedicar-lhe o seu tempo e esforço. Mas ver o sucesso dos projectos é sobejamente recompensador. Ao fazer estas ideias inovadoras funcionar na prática, Imagine incentiva cientistas, alunos e pessoas de todo o mundo a partilhar as suas ideias nas ciências da vida.

Calendário do concurso escolar

Até Agosto:os cientistas submetem propostas
Até Setembro:os alunos inscrevem-se
Setembro:os alunos são associados a projectos
Outubro:os alunos recolhem informação
Novembro:experiências em laboratório
Dezembro:entrevistas com peritos em apoio ao desenvolvimento
Fevereiro:
entrega de relatórios e selecção de finalistas
Março:workshops de técnicas de apresentação
Abril:final
A partir de Abril:o projecto vencedor é implementado
 

 

Imagine procura:

  • Chamar a atenção dos jovens para questões prementes à volta do mundo e incentivá-los à acção
  • Mostrar-lhes o papel que as ciências da vida podem ter em minimizar problemas graves nos países em vias de desenvolvimento
  • Desafiar os investigadores a aplicar a sua perícia na resolução desses problemas
  • Tranformar os esforços conjuntos de cientistas e alunos em acção
  • Implementar projectos valiosos onde são mais precisos, com base nas capabidades existentes.


Resources

  • The Foundation supports the establishment of similar competitions in other countries. If you would like further information, email info@foundation-imagine.org or telephone +31 15 278 6626. More information on the Imagine school competition is available here.

Review

O artigo descreve uma competição actualmente realizada na Holanda, que incentiva alunos (do ensino secundário) a desenvolver planos de trabalho para ideias que apoiem países em vias de desenvolvimento, propostas por investigadores na área das ciências da vida. Obviamente, organizar uma competição semelhante noutro país seria um projecto pesado, mas os benefícios que tal competição traria a todos os envolvidos são inestimáveis.

Durante a competição, os alunos ganham uma percepção de problemas do mundo real, para além da experiência de trabalhar com cientistas profissionais para compreender e desenvolver soluções práticas para problemas específicos. Os alunos obtêm ainda uma noção do funcionamento do mundo dos negócios, pois não só têm que explicar as bases científicas do projecto a um público não-especializado como também têm de apresentar custos e outras questões relativas à implementação. Para além disso, têm de criar um vídeo promocional, com o auxílio de um produtor profissional – mais uma experiência fantástica para os alunos.

Um aspecto que parece inovador é o facto de os alunos receberem instrução em muitas das competências de que necessitarão durante o concurso, por exemplo técnicas de apresentação. Essas competências são aplicáveis em muitos campos, pelo que aumentarão as perspectivas de emprego dos alunos.

O concurso tem ainda a vantagem de os alunos vencedores receberem a experiência única de visitar um país em desenvolvimento e ver o seu trabalho tomar forma e ter um efeito real numa comunidade ou família – algo que nunca esquecerão.

Mark Robertson, Reino Unido

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