Uma aula no espaço Teach article
Traduzido por M.ª da Conceição Abreu. Lucy Patterson conversou com Theodoros Pierratos, professor de ciência grego, que recentemente ganhou a possibilidade de trazer a física à vida dos seus alunos de um modo verdadeiramente extraordinário, com a ajuda da Agência Espacial Europeia.
Theodoros Pierratos (39 anos) é formado em física e ensina ciências desde 1998. Presentemente ensina física, astronomia e tecnologia a alunos de 15 a 18 anos no 2º Liceu de Echedoros, uma escola secundária nos subúrbios ocidentais de Thessaloniki, Grécia. Está também a trabalhar na tese de doutoramento sobre didáctica da física, no departamento de física da Universidade Aristóteles de Thessaloniki.
Como muitos outros, Theodoros sente que há espaço para melhorar o modo como a ciência é ensinada nas escolas. O que mais o preocupa é que, devido a constrangimentos de tempo curricular e à concentração na preparação para os exames de entrada na universidade, muitos professores abandonam a componente mais experimental no ensino da ciência. Ele sente que é difícil os estudantes sentirem-se atraídos pela ciência.
“A ciência é, na maior parte das vezes, ensinada de um modo que leva os alunos a crer que as descobertas cientificas são reveladas de uma forma mágica aos cientistas e que são válidas para sempre. Pensa-se que os cientistas são extremamente inteligentes mas pessoas antisociais que trabalham em laboratórios secretos. Como pode um aluno sentir-se atraído por esta ciência? Temos de os convencer que os cientistas são pessoas como eles e que erram como toda a gente. Com actividades tipo “mão na massa” que tratem da vida real, usando métodos tentativa-erro, os alunos podem compreender que a ciência está em todo o lado: no campo de futebol, quando fazem uma chamada telefónica, quando cozinham o almoço. Além disso, acredito que temos de educar os jovens na literacia cientifica de modo a poderem tomar decisões sobre o futuro do nosso planeta.”
Para estar em contacto com os avanços da ciência e das ciências da educação, Theodoros passa a maior parte do seu tempo a visitar páginas web e a ler revistas. Foi assim, que entrou em contacto com a competição ‘Take your classroom into space’ da Agência Espacial Europeia (ESA)w1 Diz Theodoros que, “Primeiro vi o anúncio na página da ESAw2, e poucas semanas depois li-o na Science in School”.
A ESA convidou educadores europeus a propor novas ideias sobre experiências que possam ser realizadas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) (para mais informação sobre a ISS, ver Hartevelt-Velani & Walker, 2008, e Hartevelt-Velani, Walker & Elmann-Larsen, 2008). Pedia-se aos participantes que apresentassem novas ideias que usem a ISS para demonstrar aos alunos os efeitos da gravidade e da queda livre.
Theodoros reconheceu que era uma oportunidade fantástica para levar ciência viva aos seus estudantes: participar num grande evento espacial e ensinar lhes a física básica de um modo verdadeiramente memorável. O desafio resumia-se a ter uma ideia original.
“Um dia estava a apresentar o tópico da oscilação aos meus alunos do 12º ano e pedi-lhes para imaginarem que estavam a bordo da ISS, num ambiente de microgravidade. O que aconteceria se puxassem uma massa presa numa mola e depois a largassem? Muitos alunos responderam que nada aconteceria porque não havia gravidade! Após muitas discussões com eles, usando equações conhecidas, os alunos previram por fim o que podia realmente suceder: a massa iria oscilar exactamente como sucede à superfície da Terra!”
Quando a notícia de que a proposta deles tinha ganho, ficaram, obviamente, excitados. Contudo, o envolvimento de Theodoros no projecto estava longe do fim. A ESA consultou-o sobre o desenvolvimento técnico do equipamento a colocar a bordo da ISS e pediu que contribuísse para a elaboração de um folheto, escrito por professores para professores, sobre as duas experiências seleccionadas para realizar no espaço de entre as cinco vencedoras. Pode descarregar este guia didáctico escrito em sete línguas e solicitar através da netw2 um kit educacional, que usa a mesma electrónica que será utilizada em órbita pelo astronauta da ESA Frank de Winne. Os kits são distribuídos gratuitamente aos professores europeus na base de que será servido quem chega primeiro.
Theodoros estará também completamente envolvido com os seus alunos até ao acontecimento final, uma ligação directa com Frank de Winn a bordo da ISS. As experiências estão programadas para 21 de Setembro de 2009. A demonstração – 20 minutos de ligação em directo à ISS – será o ponto alto de um grande evento na terra dedicado a ‘Escolas no Espaço’.
Liga as quatro cidades das cinco escolas vencedoras. Para um impacto maior, e para atingir tantos alunos quantos for possível, o evento terá lugar num centro de ciência de cada país anfitrião (Bélgica, Grécia, Itália e Espanha). Na Grécia, a ESA propôs o Centro de Ciência de Thessaloniki e o Museu de Thessaloniki. Pouco depois do evento, a transmissão será disponibilizada na página da ESA.
“A elevada qualidade da interacção com a ESA foi para mim uma agradável surpresa. A comunicação com a Dr.ª Cristina Olivotto é frequente, particularmente proveitosa e amigável. A ESA age como se fôssemos seus colaboradores há anos. Sinto que tenho novos amigos na Holanda.”
Para Theodoros e os seus alunos, a interacção com a ESA tem sido um benefício para o ensino da ciência na sua escola.
“Os alunos descobriram que a ciência pode ser entusiasmante. Estão tão ansiosos pela realização das suas experiências na ISS que me fazem lembrar os cientistas do CERN que não conseguiam esperar pelo início de funcionamento do LHC [para ler acerca de LHC, ver Landua & Rau, 2008, e Landua, 2008]. Quando lhes sugeri isto, eles responderam que se sentiam como se se tivessem tornado cientistas! Nas aulas de ciências perderam o medo de perguntar ‘O que acontecerá se…?’; defendem as suas opiniões, mas também as alteram, e compreendem que só há um modo para decidir se alguma coisa está correcta que é fazer uma experiência.”
A experiência também trouxe a estes alunos a possibilidade de mais colaborações e envolvimento em iniciativas Europeias, que eles antes não imaginavam que pudessem acontecer. Só neste ano, participaram no projecto de astronomia eTwinningw3 e, com outras oito escolas europeias, submeteram um projecto ao programa de parcerias Comenius da Comissão Europeiaw4. Como diz Theodoros, “Tudo isto aconteceu depois do envolvimento na competição da ESA. Tenho a certeza que os alunos vão ainda ganhar mais com a sua participação activa no próximo evento no espaço.”
Contudo, poucos professoras e alunos estão conscientes das oportunidades oferecidas pela ESA, pelo menos na Grécia: “Recentemente, numa conferência pan-Helénica sobre o ensino da ciência, apresentei um módulo de ensino que eu e os meus colegas desenvolvemos utilizando a série de DVD da ESA para introduzir a lei de Newton. Nenhum dos participantes conhecia este excelente material educacional, o que é uma pena. A maioria ficou contente por ser informada da página da ESAw1 onde estes materiais estão disponíveis.
“Verifico que os meus alunos e as suas famílias agora vêem a escola de maneira diferente; até há pouco tempo pensavam que a escola era aborrecida ou simplesmente um centro de exames. Agora sabem que a escola é muito mais do que isso. Penso que atingimos esta situação por causa da experiência e estou muito contente enquanto professor.”
Theodoros também acredita que, para os alunos, esta experiência abriu-lhes os olhos, e eles agora compreendem que tem realmente a opção de considerar a ciência como uma carreira.
“Muitos dos meus alunos que se sentem atraídos pela ciência estão preocupados com as poucas possibilidades de seguir uma carreira de cientista na Grécia. A maioria não tem em conta a possibilidade de trabalhar noutro país europeu. Penso que competições como as da ESA e a participação das escolas em programas de parceria (tais como o eTwinning e o Comenius) lhes podem dar um ideia mais correcta do que os cientistas realmente fazem: usam tecnologia de ponta, encontram-se com pessoas de todo o mundo e viajam imenso –o seu trabalho está longe da rotina. Além disso, conhecer jovens cientistas, o seu trabalho e a sua vida, pode inspirar os alunos.”
A nível pessoal, para Theodoros, a colaboração com a ESA também lhe deu a hipótese de satisfazer um sonho de longa data.
“Com certeza que seria ainda melhor se eu fosse um astronauta a bordo da ISS, mas uma vez que não estou treinado para isso, não me queixo. Assim, penso que a competição foi uma grande oportunidade para eu chegar ao espaço de um modo inesperado!”
Materiais oferecidos pela ESA
A Agência Espacial Europeia (ESA) é uma organização internacional responsável pela coordenação dos esforços dos estados membros em programas para saber mais sobre a Terra, o espaço que a envolve, o sistema solar e o Universo. A educação tem grande prioridade para a ESA. Estão conscientes de que as ideias sobre voos espaciais tripulados, a ISS e o espaço em geral provocam um fascínio sobre os jovens, e tentam capitalizar isso para alargar o interesse pela ciência e tecnologia, na esperança de que isso encoraje mais alunos a estudarem e a pensarem em seguir carreiras nestas áreas. Para atingir estes objectivos, apoiam o ensino da ciência produzindo um grande número de materiais educacionais para os alunos do ensino básico, secundário e universitário. Também oferecem aos alunos oportunidades únicas para porem a”mão na massa”, tais como experiências que serão realizadas a bordo da ISS ou em aviões em microgravidade.
Para apoiar cada um dos países no ensino de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM) criou o ESEROs ( Gabinete de Recursos sobre Educação Espacial Europeia) e pontos de contactos na Holanda, UK, Bélgica, Espanha, Noruega e Irlanda. Eles usam e divulgam os materiais educativos existentes da ESA/ESERO e, quando se justifica, desenvolvem materiais específicos ajustados às necessidades educacionais locais. Os ESEROs também organizam conferências nacionais para os professores do ensino básico e secundário .
Para saber mais sobre os materiais educativos e as oportunidades oferecidas pela ESA, basta visitar o portal online de educaçãow5.
References
- Hartevelt-Velani S, Walker C (2008) The International Space Station: a foothold in space. Science in School 9: 62-65. www.scienceinschool.org/2008/issue9/iss
- Hartevelt-Velani S, Walker C, Elmann-Larsen B (2008) The International Space Station: life in space. Science in School Issue 10: 76-81. www.scienceinschool.org/2008/issue10/iss
- Landua R (2008) O LHC: um olhar no interior. Science in School 10. www.scienceinschool.org/2008/issue10/lhchow/portuguese
- Landua R, Rau M (2008) LHC: um passo mais na direcção do Big Bang. Science in School 10. www.scienceinschool.org/2008/issue10/lhcwhy/portuguese
Web References
- w1 – Para visitar a página de educação da ESA sobre voos espaciais tripulados, ver: www.esa.int/esaHS/education.html
- w2 – Para mais informação sobre a competição ‘Take your classroom into space’ descarregar o livro do professor e pedir os kits em: www.esa.int/esaHS/SEMNDV0OWUF_education_0.html
- w3 – Para saber mais sobre o projecto eTwinning, ver: www.etwinning.net
- w4 – Mais informação sobre o Programa Comenius da Comissão Europeia em: http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-programme/doc84_en.htm
- w5 – Mais informações sobre o projecto de educação da ESA em: www.esa.int/SPECIALS/Education
- Ver também:www.esa.int/SPECIALS/ESERO_Project/SEMMHT4KXMF_0.html e www.esa.int/SPECIALS/ESERO_Project/SEM0LW4KXMF_0.html