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Traduzido por Bruno Fontinha. Simulando um neurónio na sala de aula
O sistema nervoso não é apenas fascinante, mas também, provavelmente, um dos tópicos mais complexos em aulas de biologia, na medida em que trabalhar com neurónios reais não é exequível na escola. Neste artigo, descrevemos uma actividade que utiliza uma membrana de celofane para explorar como o potencial de repouso é gerado num neurónio. Adequado para alunos com idades entre 16-19, a actividade durará aproximadamente 90 minutos.
Para que a transferência de informações ocorra, os neurónios precisam de ser capazes de gerar e manter um potencial de membrana: uma diferença de voltagem entre os meios intra e extracelulares que se concentra ao longo da membrana celular. A diferença de voltagem num neurónio em repouso é referido como o potencial de repouso. A estimulação deste neurónio pode alterar o potencial de repouso, causando um potencial de acção: o impulso eléctrico através do qual o neurónio transmite informações. Antes de o neurónio pode disparar novamente, o potencial de repouso tem de ser reestabelecido (figura 1). Mas como é que o potencial de repouso é gerado e mantido? A resposta encontra-se, em parte, na natureza semi-permeável da membrana celular.
De entre outros constituíntes do material intracelular e extracellular, encontram-se dissolvidos iões de sódio (Na+), cloro (Cl–), aniões orgânicos (A–) e, o mais importante, potássio (K+). Quando um neurónio dispara e o potencial de repouso começa a ser restabelecido, a concentração de iões K+ é maior no interior do neurónio do que fora. Ao contrário da maioria dos outros iões, os iões de K+ podem passar livremente para dentro e para fora da célula, através de canais iónicos especializados localizados na membrana. Impulsionado pelo respective gradiente de concentração, os iões K+ difudem-se para fora do neurónio, causando um movimento geral de carga positiva (figura 2). Isto provoca uma diferença de voltagem através da membrana, ficando o meio intracelular com um maior número de cargas negativas quando comparado com o meio extracellular. Este é o potencial de repouso, com um valor de cerca de -70 mV.
Apesar de existirem outros factores envolvidos na determinação do potencial de repouso num neurónio, a contribuição conjunta do gradiente de concentração e das propriedades eléctricas dos catiões e aniões pode facilmente ser demonstrada na sala de aula utilizando o celofane como uma membrana semi-permeável, como descrito abaixo.
Antes da actividade, seria útil cobrir os princípios básicos da difusão e membranas celulares com os seus alunos. Instruções para as atividades que envolvam as propriedades da membrana celular e difusão através de membranas podem ser descarregadas a partir da secção de material adicionalw1.
Para cada grupo de 2-4 estudantes, precisará:
Antes de iniciar a actividade, discuta com com os alunos o modo como eles pensam que pode ocorrer uma diferença de voltagem na célula e quais os componentes celulares que são importantes no seu estabelecimento. Apresente resumidamente o potencial de repouso. Só de seguida, diga aos seus alunas para:
Pergunte aos seus estudantes:
Tal como um neurónio verdadeiro, esta experiência baseia-se em dois componentes: no gradiente de concentração e nas propriedades semi-permeáveis do papel de celofane. Tal como a membrana de um neurónio, o celofane é permeável aos iões K mas praticamente não-permeável a iões Cl–. Isto significa que, como no neurónio, há uma difusão gradual de iões K para fora do funil (0.1 M de KCl) em direcção à tigela de vidro (0.01 M de KCl). Se os eléctrodos forem colocados cuidadosamente, sem perfurar o celofane, a voltagem da solução no funil pode ser vista a tornar-se mais negativa. O ajuste inicial de 200 mV no voltímetro é arbitrária, para garantir que a leitura final é semelhante ao potencial de repouso verdadeiro.
Apesar de ser realista, esta experiência não é um modelo completo de como o potencial de repouso é estabelecido e mantido. Num neurónio, os meios intra- e extracelular contêm mais do que iões K+ e Cl–, e existem outros mecanismos que determinam a permeabilidade da membrana. No entanto, esta actividade oferece uma oportunidade para discutir a exactidão do modelo, e a introdução de outros aspectos da neurobiologia, tais como canais de iões, a bomba de sódio-potássio e o potencial de acção.
Alternativamente, poderá perguntar aos seus estudantes para discutirem cenários hipotéticos, por exemplo, usando soluções adicionais, ou uma membrana com outras propriedades or diferentes concentracões de KCl.
Modelos simples podem ser muito úteis para a compreensão de processos complexos que ocorrem na natureza. Este artigo descreve uma actividade prática para desvendar como os neurónios funcionam. Todos os materiais necessários podem ser facilmente adquiridos e as instruções são fáceis de seguir, tornando a experiência adequada para os alunos, que a podem realizar em grupos.
As actividades podes ser usadas para juntar diversos tópicos de biologia, química e física.
Os interessados em aprofundar os seus conhecimentos sobre o assunto também pode encontrar atividades de ensino complementar na secção de referências.
Mireia Güell Serra, Espanha