Lançando ideias Inspire article
Traduzido por Sonia Furtado. Isabel Plantier ensina biologia e geologia a alunos de 15 anos em Portugal. É professora há 25 anos, e diz a Sai Pathmanathan que o tempo realmente voa quando nos estamos a divertir
Em 1982, Isabel licenciou-se em biologia – ramo educacional. Desde então tem ensinado biologia, ecologia, geologia e saúde, e nunca olhou para trás. Mas não era assim que ela tinha planeado as coisas.
“Sempre quis ser médica ou investigadora”, diz Isabel. “Mas aos 17 anos, depois de um resultado decepcionante num exame, dei por mim a estudar biologia na faculdade e no final do meu terceiro ano precisava de começar a ganhar dinheiro. Em Portugal, o ensino representava uma carreira segura, com salário fixo; a investigação, pelo contrário, não era bem paga, portanto decidi estudar para professora. Sei que esta foi a decisão certa: gosto de ensinar, e todos os dias aprendo algo novo com os meus alunos.” Isabel acredita que um dia de sucesso é aquele em que as aulas funcionam bem e ela consegue ver um brilho de prazer nos olhos dos alunos.
Então como é que a Isabel consegue produzir esse brilho de entusiasmo? “Um dia em Outubro de 2004, depois de examinarmos na aula umas sementes que tínhamos deixado a germinar, perguntei aos alunos: ‘Vamos simplesmente deitá-las fora? Com o espaço todo que temos no recinto da escola, podíamos semeá-las e ver o desenvolvimento das folhas e flores – quem sabe até podemos ter frutos!’ Resultado: agora temos uma horta onde fazemos excelente trabalho de campo, revisões para os testes, e investigamos o desenvolvimento das plantas sob diferentes condições. Tentámos simular as primeiras experiências do Mendel, e plantámos 15 árvores de fruto, com um grupo de alunos responsável por cada árvore. Até alunos que antes estavam pouco motivados estão agora a ter bons resultados a biologia.”
Isabel acredita ainda que visitas a instituições de investigação científica podem motivar os alunos – e, é claro, o contacto entre professores e cientistas também é importante. Num curso no Laboratório Europeu de Aprendizagem para as Ciências da Vida (European Learning Laboratory for the Life Sciencesw1), Isabel considerou muito benéfico o contacto próximo com o instituto de investigação. “Permitiu-me actualizar o meu conhecimento. E demonstrou que, juntamente com os professores, as instituições de investigação podem criar experiências-modelo que podem ser usadas nas aulas. Testando os modelos e dando feedback, os professores podem contribuir para melhorar ainda mais esses modelos.”
Isabel teve ainda a sorte de ir mais longe na busca de ideias de ensino. Em 2002, foi seleccionada para o Campo Espacial Internacional (International Space Camp – ISCw2), um evento realizado anualmente no US Space & Rocket Center, em Huntsville, Alabama, nos Estados Unidos. O lema deste evento é ‘Sonhar ensinar – ensinar a sonhar’, e o seu principal objectivo é unir professores e alunos de todo o mundo, para partilhar experiências e criar laços, permitindo-lhes trabalhar em conjunto para fortalecer e cuidar dos sistemas de ensino para além da semana de actividades do campo em si.
“Em Abril de 2002, fui contactada pela agência Ciência Viva (uma agência ligada ao Ministério da Ciência português, que desenvolve e apoia projectos de e para escolas) a perguntar se eu estaria interessada em participar no ISC, juntamente com dois dos meus alunos. A Ciência Viva precisava de uma resposta mais ou menos na hora, por isso – como era feriado – peguei no telefone, liguei aos meus alunos todos, e decidi avançar, sem saber muito bem no que nos estava a meter!”
As actividades giram todas à volta da exploração do espaço, incluindo desde simulações de missões espaciais usando equipamento de treino de astronautas até palestras e conferências dadas por astronautas e cosmonautas internacionais. Todos os anos, o campo é frequentado gratuitamente pelos Professores do Ano americanos (o melhor professor de cada estado dos EUA) e por um professor e dois alunos de cada um dos países convidados (23 países em 2002); há ainda alguns alunos que pagam para o frequentar. Durante a toda a semana, o trabalho de equipa é o factor-chave em todas as actividades. As equipas de alunos e professores têm programas ligeiramente diferentes, já que as actividades dos professores envolvem também módulos sobre como utilizar a exploração espacial na sala de aula.
Uma actividade divertida e útil chama-se ‘fizzy tablet rockets’ (‘foguetões de comprimidos efervescentes’), em que os alunos construíram foguetões com caixas de filme cheias de água e comprimidos efervescentes. Fizeram variar a quantidade de ‘combustível’ nos foguetões, e previram e investigaram o efeito no tempo de lançamento. Durante este processo, discutiram estatística e probabilidades, diferentes tipos de medida, e usaram fracções e decimais.
Na cerimónia de encerramento, a Isabel foi galardoada com a medalha ‘Right Stuff’ (‘A Coisa Certa’), o que significou que podia mandar mais um aluno para o ISC em 2003, sem pagar inscrição. “Para que esse aluno não tivesse de ir sozinho, conseguimos angariar fundos para pagar a inscrição de um segundo aluno. Em 2005, cinco dos meus alunos pagaram a sua própria inscrição no ISC.”
Quando a Isabel e os seus dois alunos, Bruno Pereira e Teresa Ribeiro, regressaram do ISC em 2002, aproveitaram todas as oportunidades para partilhar as suas experiências com o resto da escola. Como parte do ISC, cada professor teve de idealizar um projecto que permitisse aplicar a ciência espacial na escola. A Isabel respondeu entusiasticamente e desenhou o seu projecto ideal – mas ainda sonha em tornar o seu plano numa realidade ambiciosa. Gostaria de envolver todos os alunos de ciências, artes e humanidades do ensino secundário (14-19 anos) da escola (cerca de 400 no total) em actividades que estimulassem a criatividade e o interesse na exploração espacial.
Isabel, Bruno e Teresa fariam painéis de informação relativos às actividades do ISC e sugeririam actividades que poderiam ser desenvolvidas na escola. Os alunos escolheriam em que actividades queriam participar, e as actividades seriam distribuídas por professores de diferentes disciplinas. Por exemplo:
- Professores de química, física e matemática poderiam organizar actividades para alunos interessados em ‘fizzy tablet rockets’, ‘rocket-show quadratics’ (‘quadrática de foguetões’) e ‘vector navigation’ (‘navegação vectorial’).
- Juntamente com os professores de artes e línguas, os alunos podiam desenhar emblemas de missão (‘mission patches’).
- Professores de biologia e geologia liderariam investigações das mudanças fisiológicas vividas pelos astronautas no espaço, e ‘hidropónica na sala de aulas’ (‘hidroponics in the classroom’) – criar plantas sem solo.
Cada grupo de professores poderia organizar as actividades de modo a que encaixassem no seu currículo e correspondessem aos interesses dos alunos. O ênfase seria permitir e incentivar os alunos a fazer a sua própria investigação e a cooperar – e cada grupo de trabalho procuraria patrocínios para cobrir os custos das suas actividades. No final do ano, todas as experiências, pesquisa, resultados e obras de arte seriam apresentados – e os foguetões e balões seriam lançados!
O projecto é essencialmente baseado nas actividades que a Isabel e os seus companheiros fizeram no ISC. Isabel ficou particularmente impressionada, em Huntsville, pela actividade dos emblemas de missão, em que as equipas não só desenhavam a sua imagem, mas também descreviam a sua equipa e a sua missão. “Esta actividade de consolidação dos grupos teve um grande impacto em mim, e julgo que seria uma óptima forma de começar o trabalho de cada grupo. Aliás, a meu ver esta é a única actividade que seria obrigatória para todos os grupos – as restantes iriam variar consoante os interesses e motivação dos alunos, ou as disciplinas por eles estudadas.”
A nível de pormenores práticos, a Isabel é bastante flexível. Participação no projecto poderia ser obrigatória ou não, e poderia decorrer durante as aulas ou como actividade extra – qualquer das hipóteses resultaria. “Pensar em actividades provavelmente não seria muito difícil… O principal problema é que eu não consigo implementar um projecto destes sozinha. Teria de ser um esforço conjunto de vários professores, e até à data ainda não tive colegas suficientes dispostos a embarcar num projecto destes.” Mas a Isabel não se ficou por aqui: “Embora ainda não tenha experimentado o projecto como um todo, aproveito todas as oportunidades que tenho para usar tudo o que aprendi no ISC, tanto nas minhas aulas como em eventos especiais como os dias abertos na escola.”
O projecto de sonho da Isabel não só traz o seu quê de divertido à ciência, mas também demonstra que a exploração espacial une muitas disciplinas. “Adoraria expandir este projecto a outras escolas em Portugal – ou até além-fronteiras – como base de um programa internacional de intercâmbio de estudantes! Parece-lhe interessante? Gostaria de saber mais? A Isabel teria todo o gosto em receber os seus comentários.
Web References
- w1 – O Laboratório Europeu de Aprendizagem para as Ciências da Vida (European Learning Laboratory for the Life Sciences – ELLS) é um recurso educacional para trazer professores do ensino secundário a um laboratório de investigação científica. Com sede no Laboratório Europeu de Biologia Molecular (European Molecular Biology Laboratory) em Heidelberg, Alemanha, o ELLS convida os professores europeus para os seus workshops prácticos de três dias, que são gratuitos. Materiais educativos desenhados em conjunto com professores estão disponíveis na TeachingBASE do ELLS. Para mais detalhes, consulte www.embl.org/ells/
- w2 –Para mais informação sobre o Campo Espacial Internacional (International Space Camp), organizado pelo US Space & Rocket Center, consulte: www.spacecamp.com